domingo, 16 de junho de 2013

Chi-Kung: persistência e continuidade, as chaves para o crescimento

É patente o facto de que mais e mais pessoas começam a reconhecer a importância do auto- conhecimento para o seu bem-estar. Também vemos que começa-se a concluir que uma boa gestão dos nossos próprios recursos é a chave para uma boa saúde e uma vida harmoniosa. Nem sempre é percebido, no entanto, que esta boa gestão depende de um conhecimento aprendido e vivenciado em práticas regulares, pois, como diz o ditado popular, o mundo não se criou em 1 dia, da mesma forma, não criamos e cultivamos uma boa fundação em 1 ou 2 fins de semana, em workshops muito divertidos e dinâmicos.
 
O chi-kung é uma prática que promove esta reestruturação energética, através de um trabalho regular, contínuo e progressivo. Estamos sempre a conectar e veicular as energias que nos fundam e nos movem, buscando a sua harmonia e nos nutrindo de suas forças. Conhecemos mais e mais a natureza destas energias, suas manifestações  desequilibradoras ou harmonizadoras e, através de sua unificação e refinamento, vamos acessando dimensões mais subtis da nossa existência.
 
Cada vez mais conscientes, ficamos menos egocêntricos e com menos necessidade de afirmações de identidades. A prática flui mais livremente ao mesmo tempo que torna-se mais construtiva. Vamos nos libertando dos limites que nortearam a prática e nossos objectivos, e simplesmente fluimos no eterno presente - tudo se cura, tudo se renova. Novos objectivos voltam a surgir, novas referências nos guiam e assim continuamos nesta constante dialéctica da busca da melhoria e correcção da estrutura que só se efectiva quando nos descartamos de tudo.
 
Este descartar, no entanto, nada tem a ver com a falta de persistência e a incapacidade de seguir quaisquer limites, características de uma certa busca existente na sociedade, muito bem orquestrada pelo nosso sistema económico consumista. Pois chegar a este ponto de vazio redefinidor de estruturas envolveu um trabalho de continuidade e seriedade.
 
Aqui iremos compreender melhor a natureza do que estou a falar se recorrermos ao conceito das 3 Fronteiras do Taoismo. Segundo esta tradição nós vivemos em  dimensões distintas da realidade que co-existem. São elas a Fronteira da Extremidade Inexistente (Wu Ji), a  Fronteira da Extremidade Sublime (Tai Ji), a Fronteira de Extremidade da Obscuridade e da Claridade (Yin e Yang Ji). Naturalmente, vivemos em Wu Ji em sono profundo ou quando meditamos. Vivemos em Tai Ji quando a consciência está unida a tudo, nada tem limites, somos o universo e o universo somos nós. Estamos em Yin e Yang Ji quando vivemos na dualidade, onde há sempre polaridade, julgamento e oposição. Esta é a dimensão em que estamos a maior parte do tempo.
 
Um trabalho energético efectivo nos leva a viver mais nas Fronteiras das Extremidades Sublime (Tai Ji) e Inexistente (Wu Ji) e menos na Fronteira da Extremidade da Obscuridade e Claridade (Yin e Yang Ji) pois ao purificar, harmonizar e refinar as energias, fortalecemos o espírito e descortinamos dimensões mais subtis da realidade. De facto quanto mais reestruturante e efectivo queremos que um trabalho seja mais necessário é o esvaziamento da mente e a orientação da consciência para o vazio, pois quando a consciência está no zero (no vazio) a energia está no um (unifica-se).
 
A unificação energética se completa com o esvaziamento da mente. Contudo, numa etapa inicial da prática energética, a mente tem um outro papel, ela actua como reguladora da energia mediante sua serenidade e concentração no movimento que, em conjunto com a consciência da respiração e da postura correcta, são uma peça fundamental no chi-kung. 
 
O sentimento de união harmoniosa com tudo não é uma verdade a que me rendo porque li ou ouvi num workshop muito fixe, mas sim uma experiência que vem de dentro, fruto da harmonização energética que produzi a partir de uma prática consistente e regular. Isto é  chi-kung!
 
O trabalho mais poderoso e efectivo que leva a esta união e bem-estar são aulas regulares e frequentes de chi-kung (ou outra disciplina energética holística). Sem a continuidade e regularidade de uma prática assistida, os workshops, seminários, festivais, congressos eventuais, fixes, dinâmicos, divertidos e caros são apenas lazer para o fim de semana.